sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Jogo

A gente joga todo dia.
Joga todo dia a partida do jogo, que se chama vida.

No fim das contas, sempre tem a última casa. Para todo mundo, um de cada vez.

Talvez seja por isso que, quando alguém chega antes da gente à última casa, sintamos essa “perda”, só que não percebemos que, na verdade, não foi o jogo que a gente perdeu.

Consolador talvez seja o fato que, pelo menos conceitualmente, quem chega lá, já ganhou.
Ainda não ganhamos o jogo, mas o dado rola, dia após dia.

É um dado de facetas infinitas.
É um tabuleiro com casas limitadas.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Gente colorida

A gente tem essa mania de comparar.

A gente compara cada uma das cores do arco-íris e, se acha no direito de escolher a mais bonita e a mais feia.

Pergunto, então, aos adoradores de vermelho, se prefeririam ver uma única, grossa e arqueada faixa vermelha no céu, toda vez que fizesse chuva e depois sol.
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É assim: Os pais comparam seus filhos. Os filhos comparam seus pais. O aluno compara os professores. O professor compara seus alunos. Comparamos até os amigos. É um daqueles ciclos intermináveis.

A gente compara, para dar exemplos. Quero ressaltar que exemplos são diferentes de comparações: O exemplo é algo que a gente percebe, sente, e toma para si, por conta própria. Ele é colocado delicadamente numa prateleira e, quando expostos a ele, a gente escolhe levar ou não conosco. A comparação é externa e grosseira. Chega como já se achasse muito verdade, se esfrega nas "fuças" do comparado, que fica exatamente assim: parado. O exemplo inspira a nos movimentar e a chegar mais longe.

Volto às cores. As cores estão bem longe de poderem ser comparadas, pelo simples fato de serem muito mais bonitas quando todas juntas e, é provável que só sejam bonitas juntas, por serem extremamente diferentes. Talvez pessoas também sejam assim.

Com-PARE. Obrigado.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Hipermetropia de minha alma

Senhoras e senhores, chamo-lhes a atenção para minha mais recente constatação: Nossas almas possuem sérios problemas de visão.

Para terem uma ideia, descobri, estes dias mesmo, que a minha sofre de hipermetropia, mas não se alarmem: já há óculos disponíveis para todos os tipos de anomalias visuais de alma.

Há almas que são míopes e, este é o tipo mais comum. Estas conseguem enxergar perfeitamente tudo aquilo que está próximo delas: sua casa, seu trabalho, seu dinheiro, suas coisas, etc, no entanto, têm dificuldade ao tentar focar aquilo que se encontra em planos visuais mais distantes, como "o outro" e as questões relacionados a este outro, os problemas relacionados à sociedade e ao mundo.

Há almas que são hipermétropes. Estas conseguem visualizar com maior precisão aquilo que está distante, mas têm uma visão mais desfocada daquilo que está próximo, como a família, a casa, os amigos e, algumas vezes, até a si próprias. Isto faz com que acabem deixando passar alguns detalhes (ou muitos detalhes) em relação à estes.

Ainda há as almas daltônicas, que veem as situações de uma forma muito própria, mas um tanto quanto alterada e, que não conseguem enxergar da mesma forma que outros veem. Não que seja errado, muitas vezes estas são as grandes inovadoras, mas de vez em quando é interessante ver sob a ótica do outro.

Há ainda uma série de outros problemas oculares que atingem nossas almas, algumas possuem até mais de um deles. Isso tudo não significa que devemos nos desesperar, já que é completamente possível conseguir um bom par de óculos para cada um destes, porém estes óculos não podem ser comprados em nenhuma óptica: devem ser forjados dentro da gente, a partir do diagnóstico – construtivo – dado por quem está a nossa volta, mas que deve ser assinado por nós mesmos. As lentes são moldadas, cuidadosamente, por cada atitude nossa.

É importante sabermos ser um pouco míopes, um tanto hipermétropes, as vezes daltônicos, e até estrábicos – sim, há momentos que é fundamental conseguir enxergar a partir de duas visões simultaneamente –, mas é mais importante ainda tomar cuidado para não tentar enxergar tudo e, no fim, não ver nada.

domingo, 18 de julho de 2010

Nossos Alguéns

O céu vestia um manto de estrelas azul marinho, mas brando. A criança completava mais um ano e a cerimônia era para comemoração. Rodeando todos que ali estavam, havia mil cores penduradas decorativamente às paredes pálidas. O menino estava sério.
Foi quando o tio adentrou o salão, que esticou-se um sorriso no jovem semblante.

Lá fora era claro e azul. Nuvens fofas suspendiam elegantemente para todos os lados, a partir da mancha incandescente, que era o sol. Lá dentro, todas as poltronas macias e vermelhas, em filas harmoniosas, acomodavam alguém.
A jovem garota, que ensaiara exaustivamente, tinha agora o palco de presente e dezenas de pares de olhos ansiosos pelo espetáculo. A mãe não estava.
Lágrimas teimosas escorriam agora, pois todo mundo estava lá, menos quem importava.

Agora era aquarela. O tradicional azul celeste se misturava à pinceladas de laranja e vermelho, num horizonte largo. Eles combinavam a melhor programação para os dias que se seguiriam. O rapaz só tinha certeza de que se aquele amigo não estivesse junto, ali do lado, maior seria a frustração.

Lembrei que, por mais que queiramos estar sempre no meio de muita gente, tem momentos que só a presença daquela pessoa torna realmente especial. Não que a gente ame mais, mas cada um é essencial de maneira diferente.

Alguém a cada momento, a cada cor do céu. Felizmente, isso é bastante gente.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Compartilhando Prazeres

Se fosse possível listar todos os prazeres, bem lá no topo da lista, de roupinha de alpinista e tudo, estaria o prazer de “compartilhar”.

Desculpe-me se pareço piegas! Você até pode conseguir pensar numa série de coisas maravilhosas que faz sozinho, mas é tão prazeroso que até me deu vontade de “compartilhar” estas linhas.

Todo mundo tem sua música! Sua própria coletânea que toca a alma e embala momentos alegres. Certa vez, uma amiga pediu que eu gravasse um CD com a minha música. Qual não foi a alegria que senti, quando descobri, um tempo depois, que ela levava o presente no carro dela e, que sabia até cantar alguns trechos! Um pedacinho muito meu, que agora era dela também.

Vá à banca, compre um livro de piadas. Tenho certeza que ele te renderá muitas risadas, mas não tem coisa mais gostosa que sentar numa roda de amigos e gargalhar, juntos, por horas e mais horas, que, diga-se de passagem, voam nestes momentos! Longe de mim querer falir a indústria de livros de piadas – se é que isso existe –, na verdade, sugiro que os compre, mas só para aumentar seu repertório, aí então, sair contando para todo mundo!

Toco agora num ponto, para mim, muito sensível: chocolate! Quem é que gosta de compartilhar aqueles pedacinhos de prazer, que vêm embrulhados em papéis multicoloridos? Por outro lado, nada melhor que se lambuzar daquela panela de brigadeiro, temperada com muita risada, junto de toda a turma!

Melhor que tudo isso, é quando compartilhamos o tempo da gente. Compartilhamos o tempo para sorrir juntos, para ouvir quem precisa de um pouco de atenção, para ensinar um pouquinho do que a gente sabe. Aí, percebemos que, num mundo onde o tempo é cada vez mais escasso e precioso, a gente, quando quer, sempre consegue achar umas fatias dele para compartilhar e, que elas fazem uma diferença tão grande, que fica difícil mensurar.

Diante disso tudo, posso até arriscar dizer que, compartilhar, no fundo, é até um pouquinho de egoísmo, pois quando a gente oferece pedacinhos nossos, o que volta é tão gostoso, que dá mais e mais vontade fazer de novo!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ao pé do Ouvido

Antes de começar, note que Ouvido, aqui, é substantivo: a parte responsável pelo sentido da audição, por isso o “O” fica assim, bem bitelo. Quando “ouvido” com o “o” miudinho, aí sim, é verbo: o ato de ouvir.

Pronto! Explicadas as diferenças, despejo as letras.

Todo mundo quer ser ouvido, mas ninguém quer ser Ouvido!

Normalmente isto se dilui por entre as conversas, mas um olhar mais minucioso percebe, claramente, a guerra que se trava nos diálogos, ao tentar conquistar, por mais tempo, a escuta do companheiro. No entanto, têm aqueles dias em que tudo que você precisa é vomitar todas as palavras, só que não encontra Ouvido.

Ser Ouvido não é dom. Cerrar os lábios e ouvir por alguns instantes é permitir-se conhecer o íntimo daquele, que se abre com você. É massagear de dentro para fora.

“Ah, eu também já passei por isso...” e ir emendando uma história lá de trás, não é ser Ouvido. Embora seja uma tentativa de parecer empático, shhh! É o momento do outro ser escutado.

Já dizia o ditado, que se conselho fosse bom, não seria de graça. Dar conselho é se imaginar na situação do outro e, dizer aquilo que você faria. Não é você e você não está lá. Por mais que tenha passado por algo muito semelhante, independente de você ter 15, 35 ou 60 anos, dar conselho não é ser Ouvido.

Expresse compreensão, pergunte com cuidado, questione. Aquilo que o outro compartilha com você começará a fazer eco dentro dele mesmo e, as respostas brotam da fonte mais confiável: de dentro de quem precisa delas.

Se as pessoas fossem mais ouvidas, ninguém precisaria de terapia. Já seria suficientemente terapêutico viver, se todo mundo fosse Ouvido/ouvido.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Incômodo

Nó na garganta,
Respiração ofegante,
Aperto no peito,
Circulação esvoaçante.



As pupilas dilatam,
É tudo quente,
É tudo incômodo,
Pelo sentimento inerente.



Sente por que é humano.
Sente humanamente.