quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ao pé do Ouvido

Antes de começar, note que Ouvido, aqui, é substantivo: a parte responsável pelo sentido da audição, por isso o “O” fica assim, bem bitelo. Quando “ouvido” com o “o” miudinho, aí sim, é verbo: o ato de ouvir.

Pronto! Explicadas as diferenças, despejo as letras.

Todo mundo quer ser ouvido, mas ninguém quer ser Ouvido!

Normalmente isto se dilui por entre as conversas, mas um olhar mais minucioso percebe, claramente, a guerra que se trava nos diálogos, ao tentar conquistar, por mais tempo, a escuta do companheiro. No entanto, têm aqueles dias em que tudo que você precisa é vomitar todas as palavras, só que não encontra Ouvido.

Ser Ouvido não é dom. Cerrar os lábios e ouvir por alguns instantes é permitir-se conhecer o íntimo daquele, que se abre com você. É massagear de dentro para fora.

“Ah, eu também já passei por isso...” e ir emendando uma história lá de trás, não é ser Ouvido. Embora seja uma tentativa de parecer empático, shhh! É o momento do outro ser escutado.

Já dizia o ditado, que se conselho fosse bom, não seria de graça. Dar conselho é se imaginar na situação do outro e, dizer aquilo que você faria. Não é você e você não está lá. Por mais que tenha passado por algo muito semelhante, independente de você ter 15, 35 ou 60 anos, dar conselho não é ser Ouvido.

Expresse compreensão, pergunte com cuidado, questione. Aquilo que o outro compartilha com você começará a fazer eco dentro dele mesmo e, as respostas brotam da fonte mais confiável: de dentro de quem precisa delas.

Se as pessoas fossem mais ouvidas, ninguém precisaria de terapia. Já seria suficientemente terapêutico viver, se todo mundo fosse Ouvido/ouvido.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Incômodo

Nó na garganta,
Respiração ofegante,
Aperto no peito,
Circulação esvoaçante.



As pupilas dilatam,
É tudo quente,
É tudo incômodo,
Pelo sentimento inerente.



Sente por que é humano.
Sente humanamente.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amor

Sou alguém que acredita de verdade no amor. Não fui assim minha vida toda, mas por tudo aquilo que fiz e passei ao longo da minha vida, aprendi que é possível amar até mesmo gente que a gente nem conhece direito.
Há os que discordam e acreditam numa banalização do amor, o que para mim não tem sentido, afinal, o que tem de tão absurdo em distribuir “eu te amos” a torto e a direito?
Consigo, sim, amar meus amigos, familiares e aqueles das comunidades que trabalho. Pelo menos, na minha concepção do que é o amor.
Quero deixar claro que não estou tentando me santificar aqui. Longe de mim! Posso garantir, inclusive, que esse “amor ao próximo”, que aqui defendo, não tem qualquer religiosidade.
O tal do “amar” é palavra vista com certo pudor pelas pessoas. Não digo, em momento algum, que elas deviam pensar ou agir de forma diferente.
É, sim, uma palavra muito intensa, eu sei. Mas por tudo que você, que lê, é e por tudo que significa em minha existência, posso e vou com todas as letras dizer: Eu te amo!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Abraço

De todos os gestos que o ser humano dispõe para demonstrar afeto, amizade e amor, o abraço é o que o faz de maneira mais plena.

No entanto, em toda a minha vida, só encontrei um único lugar, onde os abraços realmente cumpriam este papel. Lá o abraço era a troco de nada, ou a troco de tudo: acontecia não só por uma comemoração, ou um consolo, mas pela simples vontade de abraçar. De colar o teu coração ao coração de outra pessoa e desfrutar deste momento.

O abraço acontecia. Note que uso o verbo “acontecer”, isso mesmo, como se abraçar fosse um fenômeno. Não uso o verbo dar, ou receber para o fenômeno abraço, pois assim se individualiza um gesto, que não pode ser praticado por um só.

Recentemente pude experienciar uma grande troca de abraços, fora deste lugar mágico. Acontece que foi como geralmente é, quando isso ocorre, era a preço de uma tragédia. Mas todo mundo se abraçava. Recebi abraço forte de gente que jamais havia recebido, embora fossem pessoas que significassem muito para mim. Sei que muitos ali sentiram o mesmo.

O problema é que quando a gente tenta levar isso para fora, tem gente que acha estranho, esquisito... Ora! Seria, agora, o ato abraçar atentado ao pudor!?

Quero abraço de verdade! No amigo, na amiga, no tio, no primo de sétimo grau e até no desconhecido. Mas não me venha com abraço de tapinha nas costas, de sorriso amarelo!

Quero abraço que gruda alma com alma, que não dure menos de trinta segundos. Abraço que abraça, dá uma respiração profunda e, você sente o Tum-tum do peito da outra pessoa no Tum-tum do seu, tocando juntos, nesta percussão coronária, uma música que embala os mais puros sentimentos.